Uma idosa de Carangola, em Minas Gerais, disputa o recorde de mulher mais velha do mundo. Familiares da mineira, que teria 114 anos, afirmam que a mulher nasceu antes da americana Besse Cooper, que atualmente detém o título. Segundo parentes, a mineira seria um mês e 17 dias mais velha.
O nascimento de Maria Gomes Valentim, de acordo com documentos apresentados à reportagem, foi registrado no dia 9 de julho de 1896. Cooper nasceu em 26 de agosto daquele ano.
O trâmite para o reconhecimento se iniciou com contato feito por uma organização americana que pesquisa os “supercentenários” pelo mundo denominada “Gerontology Research Group”.
De acordo com Taís Nolasco, uma das bisnetas de Valentim, a mulher será alvo de uma pesquisa para atestar a sua idade. “Eles pediram a cópia da certidão de nascimento dela e uma foto. Eles já receberam o material e também já o encaminharam para o pessoal do Guinness Book (livro dos recordes mundiais). Segundo informou, viria uma equipe aqui para verificar se os documentos são legítimos e se ela está realmente viva”, disse.
Sobrevivendo com salário mínimo
Além do reconhecimento, a família pretende buscar apoio financeiro para custear as despesas mensais, que giram em torno de R$ 2,5 mil, relativos aos cuidados que a idosa requer. Parentes tentam também auxílio para que a casa onde ela reside seja reformada e adaptada com mobiliário que facilite o dia a dia da mulher. Um tombo e a quebra do fêmur, há cinco anos, deixaram-na com mobilidade reduzida. Atualmente ela se locomove com cadeira de rodas.
"Ela recebe um salário mínimo de aposentadoria, é muito pouco. A pessoa que conseguiu chegar aos 100 anos, em um país igual ao nosso, tinha de ter um benefício diferenciado para cuidar da própria vida”, argumenta Taís, que explicou não conseguir ingressar a bisavó em um plano de saúde particular por ser “inviável” do ponto de vista financeiro. Segundo ela, a conta chegaria a R$ 1,8 mil mensais.
Conforme a bisneta, o acompanhamento médico da bisavó é feito pelo SUS (Sistema Único de Saúde). "Você chegar à idade que ela chegou e sobreviver com R$ 545, chega a ser um absurdo", disse.
Feijoada e empada de frango
A idosa se recupera de uma infecção urinária, o que a obrigou a ficar internada por quase uma semana. No entanto, a mulher é descrita pelas pessoas que convivem com ela como uma pessoa de temperamento forte e de muita fé. “Vó Quita”, como é tratada pelos familiares, teve apenas um filho, que morreu aos 75 anos. Ela tem 4 netos, 7 bisnetos e 5 trinetos.
Segundo Jane Ribeiro Moraes, 63, uma das netas que cuidam diariamente da idosa, ela dificilmente toma medicamentos e tem predileção por feijoada e empada de frango, “com bastante pimenta”, ressalta.
“Ela come sozinha, tem bastante força nas mãos. Ela toma, de vez em quando, remédio homeopático por causa de prisão de ventre e um relaxante muscular. Agora, a minha avó está se recuperando dessa doença, mas ela conversa e nós entendemos perfeitamente o que ela fala”, relata a neta, que faz uma ressalva para a pouca audição dela.
Para Marina Fernandes, uma das cuidadoras contratadas pela família, dona Quita é uma pessoa “tranquila, mas que quer fazer tudo”. “É uma coisa inédita para mim. Já cuidei de outros idosos, bem mais novos que ela, mas que demonstraram muito mais prostração e desânimo”, disse.
“Vive muito porque só cuida da sua vida”
Segundo a neta Jane, a mulher só demonstra desejo de morrer “quando está muito brava”. Questionada sobre a longevidade da avó, a neta repete uma fase que diz sempre escutar da idosa. “Ela fala que vive muito porque sempre cuidou apenas da vida dela e nunca da vida dos outros”.
A neta também destaca a alimentação de Vó Quita. “O pai dela morreu com quase cem anos. Mas eu atribuo isso [longevidade] ao fato de ela se alimentar muito bem, come um pão inteiro pela manhã, com uma xícara de café, depois come uma fruta e gosta muito de leite com linhaça. O almoço é normal, ela não tem nenhuma restrição alimentar e gosta, de vez em quando, de um copinho de vinho”, disse entre risos.
Para a família, o possível reconhecimento e o título de mulher mais velha do mundo seria uma espécie de tributo a uma pessoa descrita como “carinhosa com os familiares e muito ativa”. “Seria para a gente uma honra e uma homenagem a ela. Vamos fazer por onde conseguir isso”, disse Jane.
Familiares pretendem organizar uma grande festa para comemorar os 115 anos de dona “Quita”, em julho deste ano.
Fachada da casa onde mora Maria Gomes Valentim, na cidade de Carangola, em Minas Gerais. Familiares querem ajuda para reformar o imóvel e adaptá-lo às necessidades da idosa, que luta para ser reconhecida como a mais velha do mundo, com 114 anos.FONTE; Click Carangola