Foto: TV Globo / Reprodução
O corpo de Manuella Suhet Mantilla, de 10 meses, foi sepultado na tarde desta sexta-feira, no Cemitério Portal da Saudade, em Volta Redonda, no Sul Fluminense. A Criança morreu na quinta-feira, provavelmente asfixiada e de insolação, depois de ser esquecida pelo pai, o comerciante Clóvis Perrut Mantilla, de 29 anos, trancada sozinha por quatro horas em um carro.
Clóvis, que trabalha com compra e venda de veículos, esqueceu a filha, que estava presa à uma cadeirinha no banco de trás de seu carro, na Rua das Margaridas, no bairro Água Limpa, em Volta Redonda. A temperatura máxima registrada nesta quinta-feira na cidade foi de 31 graus.
Ele deveria levar a filha para uma creche no bairro Laranjal, mas esqueceu a criança, que dormia quando estacionou o carro, por volta das 14h de quinta-feira. Ele foi se encontrar com dois amigos em um restaurante na Água Limpa, onde almoçaram.
O comerciante contou que almoçou com dois amigos num restaurante no bairro Água Limpa, onde trataram da compra de um carro. Após o almoço, ele foi no carro de um dos amigos até um cartório no bairro. Em seguida, foram para a Vila Santa Cecília.
Segundo o delegado adjunto da 93ª DP, Márcio Leandro Figueiroa, Clóvis recebeu um telefonema da sua mulher, depois de 16h, que o informou que a filha deles não estava na creche. O policial disse que foi neste momento que o comerciante, que também é advogado, percebeu que tinha deixado a filha no carro dele, um Honda Civic.
— Quando o comerciante saiu para almoçar, disse que não percebeu que a criança estava na cadeirinha no banco traseiro do carro, porque a filha estava dormindo e, por causa do silêncio, esqueceu completamente a criança — disse o delegado, baseado no depoimento de Clóvis.
O comerciante explicou que pegou a criança no local onde a mãe trabalha, no Centro Educacional Jardim Amália (Ceja), mas que não tinha o hábito de levar a filha para creche, no bairro Laranjal. O casal tem ainda um filho de 4 anos.
O delegado explicou que quem levava diariamente o bebê para creche eram dois funcionários de Clóvis. Para isso, eles se revezavam. Mas, na quinta-feira, os dois empregados viram-se impossibilitados de levar Manuella para creche.
Segundo o pai, quando percebeu que tinha esquecido a filha no carro telefonou para um amigo e pediu que ele fosse socorrer a criança, por morar mais próximo do local onde estava estacionado o Honda Civic.
Ele, por sua vez, pegou um táxi na Vila Santa Cecília, mas desceu do carro na Avenida Getúlio Vargas, no Centro de Volta Redonda, em razão de um congestionamento no fim da tarde e no início da noite desta quinta-feira.
Clóvis pediu ao promotor de vendas Fábio Costa de Moraes que o levasse na garupa de sua moto. Eles chegaram aonde estava o Honda Civic por volta das 18h30m. Um amigo de Clóvis já tinha quebrado um dos vidros do carro para resgatar a menina.
— Clóvis estava transtornado. A criança já tinha dormido ou estava desmaiada. Ele retirou a filha da cadeirinha e a colocou na frente junto com ele, foi conduzindo o Honda Civic até o São João Batista. Eu fui na frente abrindo caminho, mas a criança chegou morta ao hospital — disse Fábio Costa.
O delegado decretou a prisão em flagrante e indiciou Clóvis no homicídio culposo (sem intenção de matar) na modalidade negligência porque o pai tinha o dever de cuidar da filha.
Ainda de acordo com a o delegado Márcio Figueiroa, a mãe também foi levada para o Hospital São João Batista, onde chegou a ficar internada. O delegado explicou que ela entrou em estado de choque.
O Instituto Médico-Legal de Volta Redonda ainda não tinha revelado a causa da morte do bebê.
— A mãe parecia não acreditar na fatalidade e gritava que queria dar mamar para a filha. O pai, transtornado, chorou várias vezes. Ele teme que a sua mulher não olhe mais para ele como marido, mas como a pessoa que provocou a morte da filha — disse o delegado.
O policial acredita que qualquer pena imposta a Clóvis não vai tirar essa marca para o resto da vida dele, de ter provocado a morte da própria filha.
O comerciante além de vender e comprar carros, é advogado e presbítero da Igreja Presbiteriana do bairro Voldac, em Volta Redonda. Márcio Figueroa explicou que Clóvis não foi autuado também por abandono de incapaz porque não houve dolo (intenção) no ato.
O comerciante pagou a fiança em 20 salários mínimos (R$ 12,4 mil) para que possa responder pelo crime em liberdade. A pena varia de um a três anos de prisão.
— Como ele não teve o dever de cuidado com a filha, responderá por homicídio culposo na modalidade negligência — explicou o delegado. Além de Clóvis, foram ouvidos os dois amigos que almoçaram com ele e os dois funcionários do comerciante que costumavam levar e pegar Manuela na creche. Segundo o delegado, um deles não pôde ir com a menina porque o carro estava quebrado e o outro porque já tinha um compromisso assumido.
O delegado contou que, ao tomar o depoimento de Clóvis – a quem a imprensa não teve acesso na delegacia – , sentiu que qualquer punição que for imposta ao pai não será suficiente para tirar a responsabilidade que ele está sentindo.
— A lei prevê até a figura do perdão judicial, que é quando o juiz, ao analisar um caso, conclui que o crime, por si só, já é uma pena suficiente, sendo que, no final, o autor nem é responsabilizado — disse o delegado.
O casal mora no bairro Morada do Vale, no distrito da Califórnia, em Barra do Piraí e tem outro filho, de 4 nos de idade. Camila teve alta do Hospital São João Batista, em Volta Redonda, no fim da noite de quinta-feira.
Ela teve que ser medicada porque ficou em estado de choque. Segundo amigos da família, Camila teve alta por volta das 22h desta quinta. Quando chegou em casa, ela se recusava a sair do carro, alegando que a filha chegaria logo.
Policiais disseram que o depoimento do pai da criança foi interrompido várias vezes, por causa de suas crises de choro. Segundo um inspetor, Clóvis chegou a dizer que ia se matar.
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