Hoje, a aplicação de Fumacê está sendo realizada de forma indiscriminada no meio ambiente. Condomínios residenciais contratam firmas particulares para pulverizar o produto periodicamente. Em alguns casos, a freqüência é de até três vezes por dia, quando a recomendação do Ministério da Saúde vale para, no máximo, cinco aplicações por período de dengue e, exclusivamente, para situações de epidemia.
- Na verdade, o Fumacê é uma estratégia usada para controlar a transmissão e não para eliminar o mosquito. O ideal é o controle das formas larvárias, ou seja, o controle do criadouro ao longo do ano – é o que afirma Denise Valle, chefe do Laboratório de Fisiologia e Controle de Artrópodes Vetores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC / Fiocruz).
Um dos motivos porque se controla o uso do Fumacê é, justamente, por não ser a estratégia mais eficiente do mundo. O inseticida mata o mosquito adulto apenas se estiver voando, se atravessar a fumaça e se o vento não estiver muito forte. O que representa, na prática, uma parcela muito pequena da população total, segundo a pesquisadora:
- Isso porque, normalmente, o mosquito se esconde na cortina, debaixo da mesa ou da cama, locais onde o Fumacê não vai atingir. Além disto, existe uma série de requisitos para que este procedimento funcione, como ausência de vento forte, necessidade de calibração do tamanho das gotas eliminadas pelo equipamento, atenção ao horário de aplicação, que deve ocorrer nos momentos de maior atividade do mosquito, entre outros.
Os moradores que residem próximos a estes locais devem manter portas e janelas abertas para melhor circulação do inseticida.
Fumacê causa danos ao meio ambiente
O fumacê é um veneno em forma de óleo, transformado em gotículas por uma máquina especial que o espalha pelas ruas. Esse veneno cobre todas as superfícies, como telhados, plantas, janelas e gramados. Em um dia de chuva, o material é “varrido” destes locais e cai nos leitos d’água (rios e lagos, principalmente). Tem-se então o envenenamento destes locais, que resulta na morte de micróbios e pequenos insetos, prejudicando o equilíbrio ambiental deste sistema. “Os peixes, que dependem de animais menores para se alimentar, também morrerão. Partindo para o ambiente terrestre, os pássaros sofrerão um grande impacto negativo, pois os seres vivos de que se alimentam, como besouros e formigas, não existirão em quantidade suficiente”, explica o professor Maulori Cabral, do departamento de Virologia do Instituto de Microbiologia da UFRJ.De acordo com Maulori, o fumacê não diminuiria os casos de dengue durante a última grande epidemia no verão de 2008. “Os mosquitos que agora existem são descendentes daqueles que, no passado, resistiram aos primeiros fumacês. Testes feitos em laboratório mostraram que a eficiência desta substância chegava próxima a 100%. Porém, alguns sobreviviam, e estes insetos acasalavam e deixavam filhotes, que se proliferam até hoje. Ensaios feitos em laboratório mais recentemente demonstraram que a maior parte dos mosquitos não morre mais com o fumacê.”
A criação de um possível novo veneno não surtirá os efeitos desejados, pois, por mais que no início haja uma alta eficiência, com o tempo os mosquitos adquirirão resistência a ele. “Toda vez que existe uma barreira seletiva, se destacam aqueles organismos geneticamente diferentes, presentes no meio da população em proporção ínfima. Essa regra existe para todos os seres vivos, desde o micróbio até o ser humano”, destaca Maulori.
Muitas pessoas costumam fechar portas e janelas ao perceber a chegada do fumacê, em uma atitude julgada positiva pelo professor. “Esse é um veneno que se acumula nas gorduras do corpo, e pouco se sabe sobre seus efeitos tóxicos a médio e longo prazo. Esse produto, apresentado inicialmente como uma solução promissora, pode gerar conseqüências desastrosas.”
Maulori faz questão de afirmar que a destruição e desequilíbrio do meio ambiente provocados pelo homem podem gerar conseqüências desastrosas às gerações seguintes. “Meio ambiente implica em conviver harmoniosamente com a natureza. Se você fizer bem a ela, ela te fará bem. Se você tratá-la mal, ela te cobra com juros e correção monetária”, finaliza.
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