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segunda-feira, 14 de novembro de 2011

UPP: a hora e a vez da Rocinha

Criador do projeto Barraco a Dentro, Cleber Araujo, um jornalista morador da Rocinha escreve artigo sobre as meia verdades que existem em torno da eminente ocupação da Rocinha pelo Estado

Vista aérea da Rocinha, localizada em São Conrado, zona sul do Rio de Janeiro. Foto Genilson Araujo


Numa guerra particular por audiência, a instalação da UPP na Favela da Rocinha é o principal assunto midiático. Na verdade, não se fala em outra coisa. Na tentativa de conquistar um número maior de telespectador, as emissoras estão 24 horas focadas nesse acontecimento histórico prestigiando o público com uma cobertura "exclusiva", com jornalistas posicionados nas principais vias de acesso a comunidade prontos para entrar em operação junto com a polícia - dispostos a arriscar a vida por uma matéria sensacionalista. Não podemos esquecer os especialistas e não-especialistas esclarecendo a sociedade sobre todo o processo de ocupação.

Foi justamente as meias verdades ditas pelos não-especialistas que me motivou a escrever esse artigo. Vamos a elas:

O governo está retomando as áreas ocupadas pelas facções criminosas. É importante questionar e refletir sobre essa afirmação. As facções criminosas só se desenvolveram e se organizaram em áreas abandonadas pelo Estado, ou seja, nas favelas. Que nunca contaram com a presença do Estado nos setores de educação, saúde, saneamento básico, esporte, lazer, cultura e segurança pública. Então, como pode o governo está retomando essas áreas?

Os moradores da Rocinha são reféns do tráfico. Outra meia verdade. Não me entendam mal, não estou aqui para defender bandidos. Mas na Rocinha - estou falando exclusivamente da realidade dessa comunidade - os traficantes não impediam o direito de ir e vir das pessoas; não determinavam horários de chegar ou sair; nem sequer paravam visitantes para saber para onde estavam indo, até porque numa comunidade onde vive mais de 100 mil habitantes é difícil saber quem é morador e quem não é. Os moradores são na verdade reféns do medo de uma guerra interna entre bandidos, da tentativa de invasão de outra facção para tomar o poder e até mesmo de um possível confronto entre bandidos e polícia. Medo de estar no local errado, na hora errada e acabar sendo vítima dessa guerra urbana que tira a vida de tantos inocentes.

Também gostaria de responder a pergunta clássica feita pelos jornalistas aos moradores da Rocinha sobre a perspectiva em relação a instalação da UPP na comunidade

A resposta também já se tornou clássica: MELHORIAS. A perspectiva de todos os moradores de comunidades periféricas com a chegada da UPP é de melhorias. Mas não relacionado diretamente a presença da polícia. Somente a instalação de uma UPP não muda em nada a realidade do cidadão de bem da Favela. Para entender o significado da resposta é preciso contextualizar a palavra MELHORIAS a esperança dos moradores numa nova relação política, em que o Estado se faça presente no cotidiano da comunidade em outros setores sociais e políticos além da segurança pública.

A esperança de todos na comunidade é que a instalação da UPP na Rocinha não seja apenas para fazer média com a sociedade, mas que seja para o BEM-COMUM. Que não seja somente o símbolo da conquista de um território que antes estava entregue nas mãos do poder paralelo, mas que seja o símbolo histórico da primeira etapa da apropriação do Estado sobre comunidades que antes se encontravam abandonadas a própria sorte.
Cleber Araujo, jornalista e morador da Rocinha (cleberaraujo@barracoadentro.com)

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