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quinta-feira, 26 de abril de 2012

Brasil tem cerca de 70 moedas além do Real


Há mais de dez anos, circulam no Brasil dezenas de moedas paralelas ao real. Apesar de não serem oficiais, tampouco fiscalizadas pelo Banco Central, elas equivalem a 400 mil reais em circulação e recebem o aval do governo, através do Ministério do Trabalho e Emprego. Atualmente, são cerca de 70 moedas, mas a expectativa é que o número chegue a 90 ainda esse ano.

Essas moedas paralelas, chamadas de moedas sociais, tem paridade com o real, lastro em real e são produzidas com componentes de segurança para evitar a falsificação, como papel moeda, marca d’água e número serial. Mas não tem nenhuma relação com o Banco Central. Elas são emitidas por Bancos Comunitários e circulam em grupos inferiores a 100.000 mil pessoas.

Geralmente em momentos de crise, quando há um empobrecimento, é comum surgirem moedas alternativas, restritas a alguns lugares, segundo José Roberto Savoia, professor de finanças da FEA-USP. Atualmente, observa-se esse fenômeno na Grécia. Outros países também adotam sistemas parecidos com o das moedas sociais, entre eles a Suíça, os Estados Unidos e o Canadá. No Brasil, o embrião das moedas alternativas surgiu em 1998, com um projeto piloto do Instituto Palmas, que deu origem ao Banco Palmas, responsável pela moeda de mesmo nome.

A partir da ideia inicial desse banco, que funciona até hoje em um bairro de Fortaleza, o Ministério do Trabalho e Emprego resolveu impulsionar a criação de bancos comunitários em outros lugares. Hoje há 69 bancos desse tipo no país – mais um será inaugurado hoje e na próxima semana outro será aberto. Eles concentram-se no Nordeste, em Minas Gerais e no Espírito Santo.

“A intenção não é competir com o real, é a fidelização, é uma evolução do caderninho”, afirma Antônio Haroldo Mendonça, coordenador de Comércio Justo, da Secretaria de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). O papel desse dinheiro é estimular o crédito para pessoas de baixa renda e também o comércio local, uma vez que ela é aceita somente dentro de pequenos grupos. Comerciantes que a aceitam costumam dar descontos entre 5% e 10% para quem utiliza esse meio de pagamento.

Uma das diferenças do banco comunitário, é oferecer crédito para pessoas que não conseguiriam em bancos regulares. “A maioria do nosso crédito contratado é para pessoas do Bolsa Família, pessoas que tem até vergonha de entrar em um banco”, diz João Joaquim de Melo Neto Segundo, coordenador geral do Banco Palmas e representante da Rede de bancos Comunitários.

No Banco Palmas, por exemplo, o crédito para consumo, em moeda social, não tem juros. No crédito à produção os juros variam entre 1% e 3%. Quem solicita menos dinheiro tem juro menor enquanto quem pega mais dinheiro paga mais juros, segundo o coordenador. E essa última regra vale em todos os bancos da rede.

Os Bancos Comunitários obtém dinheiro através da Secretaria de Economia Solidária ou por meio de empréstimos de bancos locais, como o Banco do Nordeste. Eles também podem estabelecer outras parcerias com bancos locais, para oferecer produtos como conta-corrente e poupança. Das instituições existentes hoje, 15, aproximadamente, possuem esse tipo de acordo.

Banco Central
Inicialmente, o Banco Central não foi nada favorável à ideia, chegando a processar o Banco Palmas pelo uso de uma moeda com paridade ao Real. Segundo o MTES, o Banco Central tentou proibir essas moedas, mas abandonou a ideia.

O Banco Central não considera que eles sejam instituições financeiras, mas sim “associações civis sem fins lucrativos representativas da comunidade”. Para o BC, a moeda social não é dinheiro, é um “instrumento de desenvolvimento local e inclusão social”, como se fosse um bônus ou um vale.

“O banco comunitário não existe legalmente, é uma experiência da sociedade. O Banco Central acompanha, mas não regulamenta”, diz Melo Neto. A relação desses bancos com o governo se dá apenas através do Ministério do Trabalho e Emprego, segundo o coordenador. O papel do MTE é fomentar esses bancos, segundo Mendonça. Desde 2005, o ministério investiu cerca de 15 milhões de reais na promoção das instituições.

“Precisa de fiscalização, de maneiras de controlar o fluxo de emissão dessas moedas. Senão, quem aceita a moeda pode ter prejuízos”, diz Savoia. Para o professor, não há possibilidade de essas moedas gerarem inflação, já que elas são usadas por pequenos grupos de pessoas, mas a existência de fiscalização do lastro gera preocupações.

Na Argentina, por exemplo, a circulação de moedas paralelas foi grande durante a crise nos anos 2000. As províncias do país começaram a emitir moedas – muitas sem lastro - que passaram a ser muito aceitas. Em 2003, o governo teve que reunificar a moeda do país, centralizando o dinheiro nos Pesos. Mendonça alega que o Brasil não corre esse risco. “No nosso caso, é uma moeda de cada banco, delimitada ao território de abrangência dele, o que impede essas armadilhas”, afirmou.

O lastro da moeda emitida pelos Bancos Comunitários é regulado pelo Comitê Gestor dos Bancos Comunitários , que reúne entidades como a Universidade Federal da Bahia e o Instituto Capital Social, além de representantes da Secretaria, como Mendonça. Os Bancos Sociais precisam ser credenciados à Rede de Bancos Comunitários, que faz a certificação das moedas.

Hoje, a soma do crédito dos 68 bancos comunitários chega a 15 milhões de reais, em média, segundo o coordenador. Há cerca de 400 mil reais em moeda social em circulação. São Palmas, Santanas, Maracanãs, Castanhas, Acaraús, Ibarés, Tupis e Terras, entre outras moedas, que equivalem a, aproximadamente, apenas 0,00028% do total de reais que há em circulação.
Exame.com

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